Domingo na oitava de Páscoa e Domingo da Divina Misericórdia
A boa notícia que transbordou ao longo de todos esses dias – na semana que chamamos de oitava da Páscoa – ainda ressoa em nossos corações: Ele ressuscitou, verdadeiramente ressuscitou!
Também hoje o Senhor se coloca em nosso meio. Vence as “paredes” e as “portas trancadas” e se coloca no meio de nós.
Neste dia pascal parece-nos oportuno explicar: (1) a importância do domingo, o dia de encontro com o ressuscitado; (2) a festa da Divina Misericórdia e seu significado em nossas vidas; e, por fim, (3) lembrar do dom da fé, que foi plantado em nosso coração no batismo e que deve ser cultivada diariamente com atos de confiança em Nosso Senhor.
1. O Domingo
São João nos narra no evangelho o encontro de Jesus com os discípulos no primeiro dia da semana (ou seja, num domingo). Ele acrescenta que oito dias depois o Senhor se manifestou novamente à comunidade apostólica. É importante essa informação, meus irmãos! Significa que “a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado” (1).
2. A Divina Misericórdia
Hoje o Senhor nos mostra, assim como aos discípulos, as suas mãos e o seu peito feridos de amor. Coloca diante dos nossos olhos as feridas da paixão. É dali, do seu lado aberto, que brota o rio de água viva, a fonte da divina misericórdia.
De fato, como nos ensinam os Padres da Igreja, é do peito aberto de Jesus que nasce a Igreja e brotam os Sacramentos, particularmente o Batismo, a Eucaristia e a Confissão.
São João Paulo II quis que neste domingo a Igreja celebrasse a festa da Divina Misericórdia porque hoje, com júbilo pascal, proclamamos no Salmo: “Eterna é a sua misericórdia” (Salmo 117, 1).
Sim, hoje nós podemos cantar as misericórdias do Senhor. Isso porque as experimentamos em nossas vidas, de modo especial no “batismo que nos lavou, no Espírito que nos deu nova vida, e no sangue que nos redimiu” (2).
3. O Dom da Fé
Para tantos homens, assim como foi para Tomé (que não acreditou no testemunho da Igreja), Cristo está morto. Para muitas pessoas Jesus não está vivo. Suas palavras são bonitas, podem até ser repetidas aqui ou acolá. Porém para tantos ele não passa de um homem que, como todos os outros, morreu e sepultou consigo todas as suas bonitas ideias…
Não foi por acaso, nos lembra São Gregório, que Tomé não estava presente na primeira aparição, “mas pela vontade de Deus“. Pois “a misericórdia divina agiu admiravelmente para que, tocando o discípulo duvidoso as feridas da carne do seu Mestre, ele curasse em nós as feridas da incredulidade (…). Assim, o discípulo, duvidando e sentindo, tornou-se uma testemunha da verdadeira ressurreição” (3).
Cabe a nós, caríssimos, continuar ecoando no mundo esta boa notícia: “vimos o Senhor!”. Essa é a nossa missão, essa é a nossa tarefa: dar testemunho do ressuscitado!
Concluamos esta meditação com uma oração:
Senhor, como os apóstolos, nossas portas estão fechadas, e também estamos com medo. Vem em nosso auxílio! Dai-nos a alegria de ouvir mais uma vez aquelas benditas palavras, as únicas palavras que nos consolam e que nos dão segurança: a paz esteja convosco!
Sopra o dom do vosso Espírito sobre toda a humanidade, concede-nos o hálito da vida, o sopro da existência da nova criação. Acolhei esta súplica que nós, os vossos irmãos, que fomos regenerados na água e no sangue pela fonte batismal, vos apresentamos com fé. Jesus, eu confio em vós!
Maria, mãe da Divina Misericórdia, rogai por nós!
Feliz Páscoa!
(1) Bento XVI, Regina Caeli, 23 de abril de 2006. (2) Oração do Dia da missa de hoje. (3) Homilias sobre os Evangelhos, 26, 7.
TEXTOS PARA MEDITAÇÃO
01. É importante recordar que para crescer a nossa fé é necessário que alimentemos a nossa inteligência, procurando conhecer as verdades que nos foram reveladas por Nosso Senhor. Elas estão especialmente contidas nas Sagradas Escrituras e na Tradição da Igreja. Elas estão explicadas de forma sistemática no Catecismo da Igreja.
02. Aos olhos do mundo, nós cristãos parecemos derrotados. Parece que estamos sempre perdendo. Perdendo nos tribunais, perdemos nas leis iníquas que são aprovadas, perdendo naqueles que abandonam a fé, perdendo nos cristãos que são assassinados… Todavia São João disse hoje uma verdade que não podemos esquecer: quem nasce de Deus (ou seja, quem foi batizado), vence o mundo! “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4b).
03. O Domingo. Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia em que bem se denomina dia do Senhor ou domingo. (Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, n. 106).
04. A Divina Misericórdia. “É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de ‘Domingo da Divina Misericórdia‘. Nas diversas leituras, a liturgia parece traçar o caminho da misericórdia que, enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus, suscita também entre os homens novas relações de solidariedade fraterna. Cristo ensinou-nos que ‘o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus’, mas é também chamado a ‘ter misericórdia’ para com os demais. ‘Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia’ (Mt 5, 7)’ (Dives in misericordia, 14). Depois, Ele indicou-nos as múltiplas vias da misericórdia, que não só perdoa os pecados, mas vai também ao encontro de todas as necessidades dos homens. Jesus inclinou-se sobre toda a miséria humana, material e espiritual” (São João Paulo II, Homilia, 30 de abril de 2000).
05. Se experimentamos a misericórdia do Senhor, também iremos espalhar no mundo essa divina experiência. É o que nos narrou os Atos dos Apóstolos, na primeira leitura, ao nos chamar à uma vida de partilha e comunhão. Convêm, hoje, meus irmãos, lembrá-los das obras de misericórdias, corporais e espirituais, com as quais espalhamos a presença do Senhor pelo mundo.
As obras de misericórdias corporais: 1) dar de comer a quem tem fome; 2) dar de beber a quem tem sede; 3) vestir os nus; 4) dar pousada aos peregrinos; 5) visitar os enfermos; 6) visitar os encarcerados; 7) sepultar os mortos.
As obras de misericórdia espirituais: 1) dar bom conselho; 2) ensinar os ignorantes; 3) corrigir os que erram; 4) consolar os aflitos; 5) perdoar as injúrias; 6) sofrer com paciência as injustiças; 7) rezar pelos vivos e pelos mortos.
06. Eis o grande remédio que salva o mundo: a misericórdia do Senhor. Ela se experimenta no batismo, mas se retorna à essa experiência a cada confissão. E é a Igreja Católica a única dispensadora que pode distribuir ao mundo esta alegria.
07. “Meu Senhor e meu Deus!”, diz São Tomé. Eis também a nossa expressão, se não com os lábios, ao menos com o coração; seja ao passar diante do tabernáculo ou mesmo quando entramos dentro de uma Igreja. Sim, o Senhor está vivo, vive no meio de nós e se deixa ser encontrado, ser tocado.